crônicas

Crônicas

- Dia Internacional da Mulher.

- Mais uma vez, é Páscoa.

- Meu dia de TIRADENTES

- Adeus, José Afrânio Moreira Duarte

- A carga de um nome

- Desabafo Místico

- Adeus, Anibal Beça

Olá visitante: estamos em março de 2008, e decidi abrir esta página com uma homenagem à Mulher, um tema polêmico, mas se existe é por que vale o reconhecimento e o desdobramento que tem na sociedade.

Dia Internacional da Mulher ©

Entre as muitas piadas e chacotas sobre a mulher, ouço dizer: “Dia 8 de março é o Dia Internacional da Mulher, o resto dos dias do ano é dos homens.”

Por que teima o homem, em pleno terceiro milênio, em zombar da mulher? Pior, em matá-la moral e fisicamente?

Que nos digam os psicólogos e psiquiatras. E eles o têm feito amiúde até na mídia, tanta é a violência que contra ela cometida nos últimos anos, meses, dias... Tantos estupros, assassinatos... espancamentos.

A Mulher está evoluindo, acompanhando intelectual e espiritualmente o desenvolvimento tecnológico, que exige novos comportamentos, novas formas de pensar. Mudanças de atitude cada vez mais aceleradas.

E alguns homens, a que chamarei apenas de homem, não. Ele não quer mudar. Porque mudar exige um movimento de dentro para fora, auto-avaliação, motivação. Os estímulos vêm de fora, mas o mudar de dentro. Rever valores e mudar é difícil. A mulher sabe disso. Para ela também é difícil, mas é necessário, dada a sua própria multifacetada condição de mulher. Mais fácil para o homem é ficar num mundo irreal e fingir que não percebe que a mulher já ultrapassou o somatório dos “limites” que lhe foram imputados na trajetória de nossa história. Talvez estes “limites” tenham raízes na própria violência do homem enquanto “machos” contra as mulheres, vistas como “fêmeas”, desde os tempos das guerras primitivas, das invasões até as guerras frias de lastro atômico. Das leis que o homem inventou sem consultá-la. De atos religiosos e cultos misteriosos de que foi excluída e para os quais hoje é chamada.

Como se houvesse uma acomodação no status quo, que precisa ser mantida, quando não há mais razão que a sustente.

Graças à tecnologia temos acesso a tudo que no mundo inteiro é feito a favor e contra a mulher, desde o bem-estar até a violência moral, física e lavagem cerebral. Isto mesmo: lavagem cerebral, porque parte dos homens ao não conseguirem o autodomínio, sublimam sua deficiência forçando um domínio sobre as mulheres.

Mas a mulher não é parte do homem, ela, como ele, nasce, cresce, pensa, cria seus próprios valores, casa-se com alguém que possua valores semelhantes, procria e vai morrer sozinha.

Neste ínterim, a mulher é companheira, amiga, amante, mãe. Um ser individualizado e como o homem, incompleto. Um necessitando do outro nesta caminhada.

Hoje mais do que nunca é uma heroína silenciosa. Trabalha fora, para ajudar no sustento do lar. Trabalha em casa, pois nem sempre pode pagar uma empregada e se pode, administra o trabalho dela e o andamento do lar, para conforto e bem-estar dos seus. Cuida da harmonia do lar. Das relações familiares. Quantas e quantas vezes é intermediária das relações entre pai e filhos? No tempo disponível está ora ao lado do marido, ora ao lado do filho em conversas, ou ajudando-o a fazer a tarefa escolar. Contando-lhe uma estória ao dormir. Ora está consertando uma roupa. Preparando um lanche. Ora nem vê, só ouve a novela. Esta supermulher muitas vezes nem se cuida direito. Seu lar é sua vida. Seu lazer é seu lar. Poucas são as amizades da juventude que ficam. Pouco é o tempo disponível para ver uma novela, sair para passear com as amigas. E muitas vezes, ela ainda consegue ser uma prosadora ou uma poetisa.

E este dia 8 de março talvez não seja apenas o “Dia Internacional da Mulher”, talvez seja sim o “Dia de Reflexão Universal em Prol da Mulher” para que homem e mulher repensem seus valores perante a sociedade. Reavaliem a contribuição que estão dando para formar o caráter dos seus descendentes e sobretudo perante eles mesmos, parceiros que são, criadores da célula mater que é a família, geradores da sociedade em que vivem, razão suprema do nosso existir que deve estar acima de quaisquer interesses.

Mulher, parabéns pelo seu dia!

Homem, parabéns por reconhecer-lhe o valor e caminhar com ela, lado a lado, construindo um futuro melhor.

Aquele resto dos dias do ano é para que pensemos no que pode representar para a humanidade este dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Mais uma vez, é Páscoa©

Páscoa me leva ao passado.

À morte de Jesus, o Cristo. À multidão que assiste impassível. Alguns, presos nos seus medos, no medo da força policial, no medo de serem discriminados se reagirem. Medo de se perder o pouco ou até o nada que se tem – a liberdade do corpo. A liberdade do espírito. Medos indevassáveis... Outros, presos na euforia patológica de ver sangue escorrer. No prazer de ver a morte chegar e ceifar a vida...

Páscoa me traz de volta ao presente. Às mortes dos Cristos modernos. Situações semelhantes. À multidão que assiste impassível. Pouco mudou. Mas a Páscoa está aí para nos fazer repensar. Mudar ou aceitar ficarmos presos nos nossos medos, nas nossas patologias. Mudam-se os nomes, adaptam-se situações – novo modus operandi, ao modus vivendi da ocasião... Hoje temos miséria globalizada, crianças morrendo de fome, governo sustentando bancos, mantendo a taxa de juros para privilegiar o capital, a taxa de inflação fingidamente baixa, gerando mais e mais desemprego. E tudo, tudo (hipoteticamente) feito em nome da Família, à custa da Família. Pois ela é a única que perde. Sim, a Família, a cellula mater, embrião de qualquer sociedade. Seria tão diferente nosso tempo do tempo de Jesus? Não, só se revezam formas de organizar a supremacia sobre o próximo. Seu símbolo mágico, o Ovo de Páscoa, se parte e se reparte para o renascer da alma, da plenitude da vida, da união verdadeira entre os homens, do deixar de estar apenas lado a lado, para a busca e prática da Verdade. Pena que nem todos se entregam à simplicidade de romper a própria casca. Pena. Pois, presos nelas, somos ilhas, ilhas humanas, não chegaremos a lugar nenhum, a não ser a este renascer contínuo e improfícuo, doloroso e de falsa cegueira que vivemos geração a geração.

Pelos séculos afora, todo ano, a Páscoa vem despertar a gente... Feliz Páscoa.

Meu dia de TIRADENTES©

Hoje acordei Tiradentes. Mas não se trata de acordar a qualquer preço a linda cidade mineira de tempos históricos. Nem se trata também de conluios sobrenaturais para acordar Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, no dia de sua morte.

Eu, sim é que acordei o TIRADENTES que habita em mim.

Aquele meu lado que se revolta com as injustiças.

Tiradentes é imagem que cabe perfeitamente no desenrolar da nossa história e de outras histórias. Ontem como hoje, a tirania, a prepotência e a falsa autodeterminação não vêm só de cima para baixo. Anda nas laterais, nos entremeios de gentes. Hoje se esquartejam idéias e ideais, e escondem os restolhos em frios calabouços, ou sepultados em lugares ocultos, para que seu espírito em chorume não vaze e contamine outros seres. E sujam memórias e transformam tudo em pizza.

Apesar se sermos racionais, continuamos animais brutos em nossa marcha pelo planeta. Vamos devastando a natureza, promovendo um ecocidio paulatino pela ganância de capital – Amazônia é prova disso.

Abro o jornal e vejo assassinatos brutais e insolúveis. Nem os mortos descansam. As crianças Isabellas que não descansarão o sono da morte, com seus assassinos impunes pelas ruas. E quantas outras que não descansam e, nem sabemos, estão aí em arquivos policiais ou simplesmente na lista dos desaparecidos, nas lembranças da família?

Em outras páginas,os que lutam pelo poder esmagam quem se atreve a atrapalhar seu caminho, sejam jovens preparados para a guerrilha, sejam jovens desprevenidos, sejam tolos como eu que escrevem poemas ou levantam a voz em brados. De alguma forma sempre sufocam as vozes, embora as palavras escritas e as guernicas continuem mostrando acontecimentos. Nossa América Latina vem sangrando desde lá de cima, e se transformando num rio de sangue. Outros países do mundo, em outros continentes, o panorama não é diferente. Quando Jerusalém será apenas a terra de Jesus? O Oriente Médio não descansa. Quando cochila vem alguém de fora sacudi-lo. A China que invade o mundo com seus produtos "made in china", faz também sua ronda interna de opressão. Dalai Lama sabe disso.

As diferenças sociais continuam apontando a exploração capitalista. Até no próprio capitalismo há exploração: basta compararmos os sistemas bancários com o sistema do empresário de pastel ao lado. Se todos cobrassem taxas, ninguém comeria pastel, comeria o dinheiro mesmo, que é um caro bem de consumo.

E por aí vamos. Eleições, corrupções nas altas esferas da direção dos países, vendas de voto.

Nos cadernos de diversão os filmes macabros, baseados em vida real são a saída para o lazer. Que lazer, hein!

Futebol, nossa grande paixão continua grande paixão, mas o jogo não. Mas o coração não se importa. Há coisas piores.

No meio de tudo, um sorriso escapará para ser a flor de lótus. Educação e saúde quem sabe um dia serão de graça e de nível. E livros também. Salários dignos. Fartura. Terra produtiva...

Os homens se assemelham no tempo e na história. Antes não tínhamos tal conhecimento, e muitas vezes escondiam os dicionários para que não soubéssemos a força de uma palavra quando usada contra o próprio homem.

No rastro da história, tanta coisa pior que hoje, e eu me sentindo TIRADENTES quero lançar aos quatro ventos sementes de liberdade. E quem sabe floresçam Amanhãs de Paz. Quimeras? Utopias? Quem saberá...

Adeus, José Afrânio Moreira Duarte

Foi no dia 03 de junho de 2008 que dissemos o terreno adeus ao amigo José Afrânio Moreira Duarte.

Um enfarto do miocárdio, silencioso e fulminante, fez o término de sua jornada. Silencioso porque sua missão era de fazer a passagem. Seus sintomas na interpretação dos leigos não seriam de infarto, já que o conjunto de sintomas estava também ligado às antigas enfermidades de que nosso amigo padecia.

Houve falas sinceras de amigos, embora vestidas de cargos de Presidente da AML-Academia Mineira de Letras, de Dr. Murilo Badaró, de Presidente Emérito da Amulmig-Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, de Dr. Luiz Carlos Abritta, de membro Afemil-Academia Feminina Mineira de Letras, de Dra. Ismaília de Moura Nunes. Além de outras da AML, da acadêmica da Afemil e da Amulmig, Auxiliadora de Carvalho e Lago, da presidente emérita da Afemil Antonia Rodrigues Sá, do poeta Joaquim Palmeira-Wilmar Silva. E tantos outros parentes, amigos, poetas, cidadãos e escritores alvinopolenses, da terra natal amada e pranteada pelo nosso amigo, que não conseguiram prender o sentimento e calar a voz. Por trás das palavras, a pujança do sentimento da perda irrecuperável, o consolo mútuo.

Do meu saber e conviver José Afrânio Moreira Duarte posso dizer que não vestiu a pele de lobo ou a de cordeiro – nem a simultaneidade ou a contradição. Passou a vida vestido de criança, transitou no sim e no não. Não trilhou o talvez, nem o acho para se mostrar às pessoas. Nem no convívio diário ou esporádico, nem para elogiar ou analisar uma obra de outrem. A sinceridade pueril foi, a meu ver, sua maior e grata característica. Seus amigos se multiplicaram dia após dia, rompendo barreiras físicas e está em todos os cantos da nossa Terra, e além dela nos que já partiram, porque não se contentava com o próprio saber, mas procurava abri-lo, enriquecê-lo e compartilhá-lo com todos que estivessem receptivos a sua amizade. Sempre procurou somar e multiplicar, sem se preocupar em apontar números dessas operações que só são mensuráveis pela alma.

Ouvindo as despedidas, lembrei-me de seu poema “Menino morto”, do livro Tempo de Narciso. Eu via aquela urna travestir-se de branca, e todos nós ali, adultos-meninos-e-meninas vestidos do branco do nosso sentimento, ouvindo, falando, mãos unidas num pai-nosso, e a seguir acompanhando o amigo José Afrânio Moreira Duarte à sua última e definitiva morada na Terra. Derradeiros amigos, na esperança de um dia voltar a nos encontrarmos.

Minha voz calou-se. Somente hoje, no terceiro dia, a verdade se instalou: ele se foi e, no entanto, sua presença é viva pelos atos, pelos passos que registrou na memória da nossa vida terrena.

Essa perpetuidade ao mesmo tempo em que me assusta, torna-me plena, pois o como passamos nesta vida é o como nos registramos nessa memória.

E por certo ele, menino franciscano, ficará a nos alegrar.

Adeus, José Afrânio Moreira Duarte, bacharel em direito, membro da AML e da AMULMIG, escritor – prosador e poeta, crítico literário, descobridor de talentos, mineiro de Alvinópolis e um Amigo para todo sempre. Até um dia!

Angela Togeiro desde Belo Horizonte/MG-Brasil

A carga de um nome©

Os nomes obedecem a uma voga. De repente as crianças de determinada década ou ano levam todas o mesmo nome. Parece uma leva que nasceu para assim se chamar. Curioso.

Depois da tragédia havida em São Paulo, em 29 março de 2008, em que a polícia evidencia que a família é suspeita da morte brutal da própria filha, o nome Isabella tornou-se ao mesmo tempo um nome que clama justiça e que perdoa. “Consagrada a Deus” é o significado do nome. Lindo nome que agora carrega essa mácula. Tempos vão-se passar para que a memória adormeça a monstruosidade havida, e o nome retome o seu significado em plenitude. Salva de palmas para nós brasileiros que, afligidos por barbáries de tudo quanto é tipo, vindas de tudo quanto é lado, temos o dom de adormecer um desgosto rapidamente. Que tudo se esclareça na mais pura verdade, pouco importa qual seja ela, que motivos a causaram, que proteção possam esconder, que atinja a quem atingir para que todos possam também dormir em paz – desejo.

Tenho uma amiga, grávida, e sabendo o sexo já tinha escolhido o nome: Isabella. Outro dia, como se não o soubesse, perguntei-lhe se já tinha decidido o nome do bebê, e ela prontamente me respondeu: “Cruz-credo, já mudei, é Isabe L L I I I”. Fez questão de frisar longamente. Quer dizer, nada alterou com a mudança do nome, ao mudar uma letra, com a ênfase que deu, seu espírito ainda evoca o trágico acontecimento. Cada vez que chamar a filha, haverá de se lembrar da outra: o nome levará a carga negativa da tragédia.

Esse é um nome que deveria ir para a geladeira, de quarentena.

Apesar de que muitos brasileiros, ao contrário, darão o nome em homenagem à morta e farão questão de contar à filha o porquê. Quer dizer viverão com o fantasma da outra atrelado ao próprio nome. Uma lembrança adversa, pois embora seja uma catarse dos pais ante a atrocidade, que tem a filha que vai nascer ou recém-nascida com isso? Ela deve ter um nome só dela, que a identificará entre todas por ser única, embora outras crianças tenham o nome igual. Cada ser é uma maravilha única. Ninguém compensa ninguém.

Também o nome Bernardo. Há uma voga por aí. Significa “Forte como um urso”. Mas ao mesmo tempo da leva, a novela “Duas caras”, da Globo, tem um personagem gay, Bernardinho envolvido numa relação homossexual. O papel veste bem o significado, pelo que enfrenta o personagem – um urso, para se fazer valer como ser humano com direitos e obrigações dos ditos normais. Este apontamento desveste-se de preconceito, pelo contrário, as diferenças sexuais sempre existiram na nossa história, ao nosso lado, mesmo que muitos finjam que não. O problema é justamente a cabeça de certas pessoas: sempre haverá alguém a relacionar o nome com o personagem, com o intuito de humilhar a criança e seus pais. Há muita gente assim. Ora se há. Que gostam de fazer comparações ridículas sem pensarem nas conseqüências e, até na própria família, fazem-no com apelidos toscos, mal colocados. Que os Bernardos sejam bem-vindos e sejam ursos brincalhões alegrando nossas vidas.

Madalena. Quem não consegue relacionar o nome com a pecadora bíblica? Só quem não conhece a bíblia. Mas mesmo assim sabe só a pecha. E alguns sempre a repetem ao conhecer alguma Madalena. No entanto, é um nome hebraico que significa “Cidade das torres, a dos cabelos penteados”. Quer dizer nada a ver o comportamento da referida com seu nome. Por que têm as Madalenas de levar a pecha? E precisam ser as Madalenas as eternas redimidas? Quem quer mostrar cultura, fale do significado do nome, da mudança, da atuação daquela Madalena ou cale a boca, bem melhor que exaltar o pior. Há gente que fica a cata de uma brecha para ofender e esconder o próprio defeito. Estes sim devem ser madalenas não arrependidas. Como jacarés comendo a presa, chorando de felicidade.

Nome bíblico é um problema. Os que têm como eu nomes angelicais ou de anjos, arcanjos e serafins sofrem. Todos aludem nosso comportamento com esta esfera. Mal sabendo que Lúcifer também foi um anjo. Mas ninguém põe um nome desse no filho. Ou põem?

E os tais nomes incomuns que os pais colocam nos filhos orgulhosos da originalidade, sem saber o mal que estão fazendo. Nomes como Último das Dores, Décimo do/da fulana etc. Nomes cacófatos como Jacinto Dores Aquino. Há nomes que são palavrões, soam a baixo calão. E os nomes estrangeiros escritos com erros: Washington – Uosxiston. Pacífico Armando Guerra! Há nomes para a gente rir e chorar de tão sui generis, para não dizer até ofensivos que são. Mas há pessoas que os têm. Há quem goste de ter um nome estapafúrdio, pois se sente diferente, claro, souberam conviver com ele. Muitos entram na justiça para conseguir mudá-lo de tantos complexos que adquiriram desde a infância pelos nomes desumanos, até sádicos, que recebem dos pais. Também tem gente que muda seu nome para um bem estranho, justamente, para se destacar. E com a numerologia alguns acrescentam letras, que tornam o nome estranho, alguns impronunciáveis, sem sentido, alguns ridículos, alguns riquíssimos, só para completarem a busca da melhor harmonia com o destino. Como somos complicados!

E quando alguém acrescenta outro nome ao nosso, Maria por exemplo. Nome lindo, mas quem não tem sente-se invadido, como se ficassem apontando uma falha que não se tem. O meu, por exemplo, desde nova têm a mania de me chamar de Angela Maria, por causa da cantora. E ainda falam ‘Angela Maria, a cantora, você canta?’ Tenho birra, não da cantora, mas das mesmas pessoas insistirem. Eu sinto orgulho com a comparação, quem me dera tivesse sua musicalidade, porque cantando sou um vegetariano num churrasco. Por isso, de tanto falar “Não, sou Angela Togeiro’, virei Angela Togeiro, virei Togeiro. Sinto-me única. Houve época de adolescente em Barra Mansa, onde costumava passar férias, em que éramos umas dez Ângelas, havia Ângela, Maria Ângela, Ângela Maria, Ângela Aparecida etc. Era até engraçado, quando a gente estava no clube, na piscina ou nos bailes, em bando... E meu nome não tem acento, mas soa como se o tivesse. Cartórios...

Colocar nome de santo para pagar promessa por graça pedida é tão estranho, mas acontece. E muito. As pessoas contam aos filhos o porquê, quando, e se valeu ou não. Até na minha família há nomes-promessas-alcançadas-e-não-alcançadas. Também há as coincidências. Um dos meus filhos nasceu em agosto, batizado Alexandre. Anos depois descobri um Santo Alexandre de Bérgamo no mesmo dia. Nada a ver na escolha. Havia dois nomes na balança Ricardo e Alexandre. Como nasceu com peso e altura além da média, ficou Alexandre – como o Grande, que era grande só no que fazia. Já o santo era romano, grande no físico e na mente.

Eu gosto do meu nome, às vezes fico pensando como gostaria de me chamar senão Angela. Nenhum me vem à mente. Quando preciso de um pseudônimo para um concurso literário, sofro para decidir que nome poderá me substituir. Nenhum nome pode me substituir, considero que é só um concurso que meu pseudônimo pode ganhar para mim. Como meu representante. Apenas isso, convenço-me.

Cada pessoa constrói em volta do seu nome de batismo uma história única, inimitável no bem ou no mal, faz dele uma alegria para si e para o mundo, ou uma desesperança, ou uma desilusão.

Não é questão de nome é questão de caráter.

Parállelos – de Flor e de Mulher

Canto 1

Uma flor se descobrindo

Vivi grande parte de minha vida como um botão, mas sabia que era uma flor.

Toda flor que pensava que era nada tinha a ver comigo.

Vivi quase uma vida toda desabrochando, desabrochando, até me desabrochar na flor que eu sou.

Numa primeira primavera, eu me abri em violeta.

Tímida!

Tentei surpresa olhar o mundo que me descortinava, mas pouco vi dele e, talvez, ele sequer me notou.

O meu cálice era grande demais e me escondia.

Acabei recolhendo minhas pétalas e me encolhendo e me escondendo no botão que eu era.

Em outra primavera, eu me abri em margarida.

Irrequieta!

Balancei, fogosa, minhas pétalas para o mundo, ao sabor do vento. Com minhas dezenas de sementes, como olhos, cataloguei tudo o que vi ao meu redor. Perdi parte de minhas pétalas brincando de bem-me-quer, malmequer.

O meu cálice era estreito demais e me apertava.

Acabei, novamente, dobrando o resto de minhas pétalas e me recolhendo em mim mesma, no âmago do botão que eu era.

Já numa outra primavera, eu me abri numa volumosa hortênsia.

Conquistadora!

Minhas florzinhas se lançaram ao mundo, cada qual independente, querendo ter vida própria, buscando mil formas diferentes de se mostrarem e de se destacarem uma das outras. Algumas conseguiram, outras não. Várias se perderam. Uma até se multiplicou.

O meu cálice era delicado e minha haste fina demais para nos agüentar a todas e não se quebrar.

Acabei fechando minhas centenas de pétalas em dezenas de botões e me recolhi, mais uma vez, no único botão que eu era.

Finalmente, eu me abri numa rosa.

Vencedora!

Olhei o mundo com minhas dúzias de pétalas. Estendi-me para fora; ergui-me; ofereci-me para ser admirada, cuidada e amada. Dar ao mundo os encantos que mantive escondidos por todo tempo em que pensei e tentei ser outras flores, guardando suas qualidades, colhendo experiências e me escondendo num botão indeciso que eu era.

O meu cálice me cabe perfeitamente, minha haste é suficiente para sustentar a minha existência.

Atingi a maturidade plena e satisfeita do meu botão: hoje sou uma flor. Completa. Perfeita.

Canto 2

Uma mulher se encontrando

Também, como se fosse um botão de alguma flor, minha vida se desenvolveu.

Numa primeira década, quando criança, fui tímida como a violeta.

Surpresa com o mundo enorme, maravilhoso, estranho e hostil a ser por mim desvendado e talhado, eu me abriguei na casa dos meus pais, meu refúgio.

Em outra década, já adolescente, fui irrequieta e fogosa como a margarida.

Tomei do mundo tudo o que ele me permitiu: de vários amores, muitas experiências a mil conhecimentos.

O mundo era a minha casa e meu refúgio, com todos os segredos que ele, ainda, teimava em me esconder.

Mais tarde, em outra década, adulta, fui conquistadora como a hortênsia.

Abri-me num leque com as múltiplas facetas da mulher: lógica e ilógica, intuitiva, dependente e independente, inteligente e loura burra, educadora, trabalhadora e batalhadora, preguiçosa, colega, amiga, inimiga, amante, companheira, mãe, alimento, irmã, filha, cozinheira, arrumadeira, poeta. Enfim, com as centenas de qualidades, de defeitos e de sentimentos, todos mutáveis, adaptáveis, contraditórios e transitórios, que temos para lidar com o mundo.

A família e os amigos eram minha casa e meu refúgio

Finalmente, atingi a maturidade.

Sou vencedora como a rosa.

Tudo o que fui e aprendi foi somado e estruturado para se transformar no ser que hoje sou.

Porém, como a rosa, minha maturidade não é plena: o mundo ainda me oferece conhecimentos, que estou apta a absorver através do meu espírito, crescendo cada dia mais na interminável busca da possível perfeição humana. Incompleta, incansável e insatisfeita na busca do conhecimento espiritual, das minhas raízes divinas.

Hoje, meu corpo é minha casa, o refúgio da minha alma, enquanto eu habitar, nesta dimensão, este planeta.

Adeus, Aníbal Beça

Recebi mensagens comunicando-me o falecimento do escritor, músico e homem públicoAníbal Beça, de Manaus/AM, onde foi Secretário de Cultura da Prefeitura. Pude constatar que, infelizmente, é verdade. Do

http://portalamazonia.globo.com/pscript/noticias/noticias.php?idN=91111,

de 25 de agosto de 2009, Fonte: Raphael Cortezão - Do Portal Amazônia, onde há mais dados, copiei o trecho em aspas:

“ “MANAUS - Morreu na manhã de hoje (25), vítima de complicações renais e infecção generalizada decorrentes do diabetes, o poeta, compositor, teatrólogo e jornalista amazonense Anibal Beça, de 62 anos.

De acordo com o filho do escritor, Ricardo Antonio Turenko Beça, que também é médico e acompanhou o pai na luta contra o diabetes, Aníbal foi internado por conta de complicações renais, que culminaram em uma infecção generalizada. "Todos os procedimentos médicos foram realizados, mas infelizmente ele não resistiu", disse." “

Grande incentivador das letras não só de lá, mas de quem passasse em seu caminho. Meus primeiros haicais foram publicados em seu site, a seu convite e confiança em meu trabalho. Pelo que sou-lhe grata sempiternamente.

Grande perda para nós, ganha a eternidade.

Este é o último poema que recebi dele.

HADES

Aníbal Beça ©

Banhado pelas águas que carrego

sou fluvial nos olhos da viagem

e procuro no longe por estrelas

arqueiro armado em arco de distâncias.

A flecha escorre morna pelas veias

e vai no seu incêndio de braseiro

flambar longínquas franjas noutra aldeia

nas chamas de um destino aventureiro.

Esse fogo alimenta e inflama fêmeas

meus Astros de pulsão na via térrea

serenando barulhos nos sussurros .

Nesse banquete serve-se o silêncio

comido por dois pombos sem arrulhos

apenas o aroma como cúmplice.

Fica este pequeno preito de admiração ao poeta que cantava o Amazonas, não só por ser terra rica e bela, mas por ser o seu chão.

Desabafo Místico

AVE-MARIA, CHEIA DE GRAÇA, ajudai-nos, Mãe Divina, Vós que velais o destino do mundo.

Mãe, Vós que sempre intercedestes por nós junto ao Vosso Divino Filho Jesus, sereis minha porta-voz das coisas que estão acontecendo na Terra, e que causam tanto sofrer às almas, para que Vós nos ampareis, e escutando meu lamento, diga-Lhe dos descaminhos em que nos perdemos.

Ah, como está triste este planeta. Por milhares de anos, paulatinamente, estamos destruindo a fauna e a flora. Já existem centenas de exemplares deles que só existem em livros, em fósseis, ou em museus de cera.

Também, estamos poluindo e destruindo o planeta. A camada de ozônio, que reveste o planeta, nós já estamos conseguindo destruí-la, e, com isto, as formas de vida do planeta também sofrerão as conseqüências. E estamos fazendo do universo o nosso lixão com o que expelimos e dos restos de naves que nele explodem. Estamos poluindo o solo, os lençóis d’água, os rios, os lagos, as nascentes... todas as águas doces e os mares. Até bombas testamos no fundo do mar! Promovemos o lento degelo dos pólos. E reclamamos dos ciclones, dos tufões, dos terremotos, das tsunamis...

Com a desculpa de eliminar as pragas que destroem as plantações e diminuem a produção de alimentos, estamos enchendo o planeta de agrotóxicos que matam a fauna e a flora, o solo e as águas e suas nascentes, e seus lençóis subterrâneos, isto é, aos poucos matamos a nós mesmos, os criadores de tais venenos. Um geo-ecocídio desprogramado em marcha...

Não matar. O mandamento está lá, mas não o estamos praticando. São tantas as doenças da alma que carregamos às escondidas, que as do corpo, que mostramos, são pequenas. Estamos sempre a pecar, a pedir perdão, e pecar de novo o mesmo e mísero pecado que nos afasta mais ainda da perfeição dos valores espirituais. Agora queremos permitir ou já permitimos o aborto porque o feto não tem certidão de nascimento, mas tem de óbito, enquanto gritamos por alguém que morre violentamente ou mansamente porque tem certidão de nascimento. Queremos nos clonar, desafiando a Obra e a Grandeza de Deus.

Se não bastasse, já matamos o Filho que Deus nos enviou para nos salvar e matamos aqueles que ousam levantar a voz para nos salvar de nós mesmos, de nossa maldade que busca valores que não os eternos. Também peco, pois não faço nada para evitá-lo.

O SENHOR É CONVOSCO, pedi-Lhe em nosso nome. Ah, minha Mãe do Céu, sinto tanta tristeza ao ver certas coisas, que, quando começo a rezar, acabo perdendo-me nas atrocidades que estão a minha volta. E vejo a vida passar e a morte manter-nos escondida a porta da eternidade, que infelizmente por desconhecê-la, não lhe damos valor, embora temendo-a, queremos conquistar as efêmeras glórias terrenas usando o lema do custe o custar, ou a lei de Gérson, debalde nossa alma se corroa com nossos erros na sua eternidade interior.

Por isso Vos imploro: intercedei por nós, salvai-nos de nós mesmos através Dele.

BENDITA SOIS ENTRE AS MULHERES, ouvi o coração das mães. Tanta gente passando fome, e aqueles que nós elegemos para nos guiar nos roubam e nos oprimem. Deixam populações inteiras entregues à própria sorte, enquanto eles se fartam e se enriquecem. E os que drogam nossos filhos? E estas guerras esparramadas pelo mundo afora, com armas letais, bombas atômicas, bacteriológicas? (Por que razão tantas guerras levam sempre bandeiras econômicas egocêntricas e/ou teor religioso e, para manter a paz, precisam sempre de armais letais? Por que tanta incongruência? Por quê?)

Os velhos abandonados? As viúvas desamparadas? E os pobres seres tementes a Deus, jogados ao léu, sem que alguém vele realmente por eles. E as mulheres que são assassinadas por ciúmes sociopatas e nem sequer há punição aos seus matadores? E pais que matam os filhos? E pais que violentam e maltratam os filhos? E as mães que jogam fora seus filhos? Iluminai os seus corações, infundi-lhes coragem. E o desemprego? Remédios cada vez mais caros? E a falta de alimento mundo afora? E o desafeto, a desunião dentro dos lares? Só Vós podeis ajudar-nos em nome Dele.

BENDITO É O FRUTO DO VOSSO VENTRE JESUS. Que Ele esteja ao Vosso lado quando Vos chegar este desabafo, partilhando Convosco do coração das mães e dos pais. Daqueles que lutam pelo bem. Ajudai as pessoas de bom coração, as que se unem em grupos ou ONGS para combater a exploração e a prostituição infantil, a violação doméstica, ajudando as crianças mutiladas pelas guerras, pelas fomes, e as exploradas no trabalho ainda miúdas.

Ouvi, ó Magnífica Bondade, o coração das mães. Das que Vos procuram ou que de Vós se escondem. Vede a AIDS/SIDA que se não bastasse matar os que infelizmente se perderam no vício das drogas e da luxúria, ou da propalada liberdade sexual, matam também nossas crianças, frutos tantas vezes da promiscuidade dos atos inconseqüente dos pais? E o câncer que a elas dá tão pouca chance de viver? E as crianças sadias que tanto maus exemplos ouvem dos adultos e dos canais de comunicação? Que será delas? Que será se não as amparardes desde já neste tumultuoso incerto caminhar?

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, só por Vosso intermédio e nossa humildade que Ele nos atenderá. Ah, Mãe do Céu, e esta tecnologia, esta apregoada globalização que não é para todos, que nos torna orgulhosos se donos de alguma coisa que não nos leva a Ele ou não a usamos para ajudar o próximo? Como fazer para que os homens sejam iguais, bons e fraternos se o mal sempre está vencendo o bem? Se nós deixarmos que isto aconteça, que armas teremos senão Vosso Amor para vencê-lo?

ROGAI POR NÓS PECADORES, AGORA, intercedei junto a Ele para que nos tornemos dignos de Suas promessas. Este é um mundo de provação, pautado na esperança. Mas vejo esta esperança se acabar em muitos corações, tamanhas lhes têm sido as aflições terrenas. São eternos Jós. Como luto para não fraquejar, não blasfemar e não seguir o caminho do mal que se torna cada dia mais e mais próximo e fácil da gente, é como a peste a rondar nossas vidas! A alavanca da esperança é a que nos salva, por certo vem do Vós, vem Dele.

Perdoai-me se Vos entristeço, mas precisei falar-Vos assim. Queria tanto acordar e ver que a Paz está não só em alguns homens de boa vontade, mas em toda a humanidade. Que ela chegue ao coração dos maus e os converta. Que Deus reine finalmente por Vosso intermédio.

E NA HORA DE NOSSA MORTE, para irmos ao Vosso encontro e partilhar de Vossa presença pela eternidade, e quiçá termos a honra e a glória de desfrutar amiúde do convívio Dele.

Não Vos direi AMÉM, mas ATÉ BREVE. Amém eu Vos direi quando finalmente puder escrever para só contar coisas boas, e agradecer cada gesto, cada Vosso olhar que já estão mudando nossos valores, que eu já os sinto só de poder fazer este desabafo. Obrigada por Vossos Divinos fluídos. Obrigada.

Que a humanidade se convença de que nada levamos desta terra a não as coisas com que enchemos nosso espírito. Estas tornam imortais nossa passagem, seres bons de serem lembrados e não execrados como os que assolam a própria alma.

ATÉ BREVE, Maria, Mãe de Deus e, se Vós mo permitirdes, minha Mãe também.

Angela Togeiro desde Belo Horizonte/MG-Brasil